GuitarCoast
As artes marciais - oriundas do
Oriente - sempre foram caracterizadas por seu forte senso de disciplina,
persistência e paciência. Ora, o que mais seria melhor no estudo da guitarra do
que esses itens?
No estudo da guitarra o
instrumentista deve empreender e praticar sua atitude de persistência ao
treinar as técnicas mais complicadas, precisa ter paciência ao executar o treinamento
dessas técnicas, assim como necessita de uma rigorosa disciplina em relação a
sua forma de estudar. A filosofia marcial tem muito a ensinar aos músicos, seja
qual for o instrumento, quanto às atitudes corretas e direcionadas a um melhor aproveitamento
de seu tempo de estudo, e prática no quesito aprendizagem e crescimento musical
de um indivíduo.
No Kung Fu, por exemplo, existem
as formas (relacionadas à maneira do praticante marcial se posicionar em uma
luta) caracterizadas por gestos e posicionamento do corpo; na música o
instrumentista deve prestar atenção quanto a sua posição - desde a maneira como
segura o instrumento até a posição das mãos, coluna, pernas - a fim de
aproveitar o máximo de seu corpo sem prejudicar sua saúde, posteriormente. Uma
posição errada do pescoço, braços e coluna pode acarretar contusões com o
passar do tempo.
Além disso, na filosofia de uma
luta oriental é preciso regrar uma rotina de treinamento com afinco, apenas
dessa forma a ascensão é possível. Na música ocorre o mesmo: o músico deve
projetar uma forma associada ao seu estudo, regrando o tempo e apresentando
subdivisões do mesmo. Desse jeito, torna-se viável o aprendizado das diferentes
técnicas e um conhecimento aprimorado das mesmas.
O pensamento interior que é
projetado em um lutador marcial é o de que ele jamais deve pensar em como os
outros lutam ou tentar focar em ser melhor que outrem, pois esse foco é
totalmente equivocado e limita ao praticante atingir o máximo de sua
habilidade. Na música, muitas vezes, vemos e ouvimos certas discussões irrisórias,
do tipo: fulano ou cicrano, quem é o melhor? Levantar essas questões, segundo a
teoria oriental, é a maior prova de que o indivíduo possui uma insegurança ou
medo de não atingir seu limite e por isso retira o foco de si, colocando-o nos
outros. Você jamais deve pensar em tocar como o guitarrista A ou melhor do que
o guitarrista B, o foco deve ser direcionado a tirar o melhor de você, foque na
sua prática e aprendizado, não em outros porque isso jamais lhe trará ascensão.
A meditação e concentração -
elementos essenciais em toda filosofia do oriente - também contribuem de forma
absurda a uma maior progressão do instrumentista a fim de que ele adquira
reflexão sobre seus pontos mais fortes ou naquilo que ele mentaliza melhorar. É
fundamental a concentração e o direcionamento: nas artes marciais devemos
praticar muitas vezes o mesmo movimento, seja um soco, chute ou forma; no estudo
de um instrumento não é diferente... O ser deve repetir, repetir, repetir... refletir,
refletir, refletir... Não basta executar uma frase 30 vezes se não procuramos ouvi-la. No Kung Fu utilizamos um espelho a fim de obter uma visão do movimento
executado, na guitarra o ideal é gravarmos tudo o que é treinado, grave, ouça,
toque, grave novamente e ouça. Compare a evolução de um mesmo trecho tocado em
um dia e duas semanas após esse, pois isso fará com que realmente possa observar
o resultante do estudo e se o direcionamento está correto.
Assim sendo, é possível observar
que podemos retirar muito de uma filosofia oriental para a vida, seja no estudo
da música ou no modo que encaramos o dia a dia e nossas tarefas. Uma forma
aplicável do Oriente seria mentalizar algo que estudamos, você pode estar em um
ônibus e pensar naquele solo que está tirando, desde a sua execução ao tempo
até a palhetada. Isso funciona até mesmo para que se mentalize mais rapidamente
uma música inteira na cabeça. Funciona mesmo, pense nele antes de dormir e
quando acordar. Temos muito a aprender com as artes marciais, elas podem nos ajudar
bastante.
Autor: Júlio Vallim
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